Erik Weijers, há um ano
Um aceso debate propaga-se pela comunidade Bitcoin. Trata-se de uma nova proposta de melhoria: a BIP119. O desacordo diz principalmente respeito à questão do quão rapidamente esta proposta pode ser implementada ou se um consenso mais amplo deve ser primeiro atingido.
A mais recente atualização da Bitcoin, Taproot, foi precedida por anos de amplo debate e testagem. Por conseguinte, já havia bastante unanimidade antes do mecanismo de ativação da atualização ter sido colocado em prático. Neste caso, não há esse acordo. A discussão sobre a BIP119 tem estado a aquecer, particularmente nas últimas semanas. Por detrás da questão da velocidade a que a proposta deveria ser submetida a votos há uma questão mais fundamental. Nomeadamente, a questão sobre o que é, essencialmente, a Bitcoin.
A BIP119 (Proposta de Melhoria 119 da Bitcoin) daria mais opções à Bitcoin para executar a funcionalidade estilo contrato inteligente. As transações tornar-se-iam mais programáveis fruto disso. Por exemplo:
Para fazer tudo isto, a BIP119 utiliza pactos. Estes são restrições num script que definem as condições para como uma transação enviada pode ser gasta.
A preocupação é que a força dos pactos levará a efeitos secundários prejudiciais. O criador da BIP119, Jeremy Rubin, reivindica que o seu designado Check Template Verify é uma implementação minimalista de pactos. É precisamente este ponto que está a provocar preocupações, tal como evidencia o grande explicador da Bitcoin, Andreas Antonopoulos, nestas P&R.
Porque onde termina o poder desses pactos? Um desafio com os pactos é que estes permitem toda uma série de restrições recursivas e, consequentemente, difíceis de prever: “esta saída de transação só pode ser emitida por este pacto numa transação que também tenha um pacto, o que...” Etc. como um ninho de bonecas Matrioska.
E, talvez já esteja ligeiramente alarmado... restrições sobre as transações. Isso tem um contratempo que – indesejado ou não, mais adiante no futuro ou não – a Bitcoin não pode ser gasta sem a aprovação de um pacto. Na realidade, poderia levar a uma listagem de permissões ou listagem negra das Bitcoin que podem, ou não, ser enviadas. Este é um recurso que poderia ser explorado e talvez não queiramos: torna a Bitcoin menos trocável (fungível). De facto, levaria a dois tipos de Bitcoin: a Bitcoin que pode ser enviada para qualquer lugar e a Bitcoin que só pode ser enviada para endereços da lista de permissões.
Sob o desacordo relativamente às potenciais implicações da BIP119 encontra-se uma questão mais profunda daquilo que a Bitcoin deve ser. Também queremos transformar a Bitcoin numa plataforma de contratos inteligentes ou deveremos deixar isso, por exemplo, para a Ethereum? Não é suficiente a Bitcoin fazer o que faz melhor, que é simplesmente ser dinheiro de confiança? Não estamos a introduzir todos os tipos de vulnerabilidades e adicionarmos demasiada capacidade de programação?
O ponto de ligação com o qual iniciámos este artigo é processual, mas não menos essencial daquilo que torna a Bitcoin antifrágil. Jeremy Rubin quer levar a BIP119 aos mineiros num teste rapidíssimo: isso daria aos mineiros quatro meses para apresentarem o seu voto. Se, pelo menos 95% forem favoráveis, o novo recurso está “garantido” e será ativado, uma vez mais, alguns meses mais tarde. Isso seria incrivelmente rápido para a Bitcoin.
Caso este teste rapidíssimo seja aprovado e caso a maioria dos mineiros seja a favor – algo que não parece muito provável – então este receberia, sem dúvida alguma, resistência por parte dos operadores dos nós. Estes são os utilizadores mais regulares que executam uma cópia da blockchain Bitcoin. Eles têm pelo menos tanto poder quanto os mineiros na permissão ou bloqueio de uma nova BIP. Qualquer um que execute um nó poderia decidir rejeitar blocos de mineiros que tivessem votado a favor deste.
Assim sendo, o mecanismo de consenso da Bitcoin depende do voto de vários tipos de partes e é, por conseguinte, altamente conservador. Provavelmente não será possível levar rapidamente a cabo a BIP119.
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