Erik Weijers, há um ano
Se a Bitcoin é uma cidade amuralhada, então a altura da hashrate equivale à altura das muralhas. Para ser mais preciso, a rede Bitcoin é uma base de dados cujo direito para acrescentar dados está reservado apenas para as entidades que estão dispostas a contribuir com poder computacional suficiente. O poder computacional acumulado com que estes mineiros, a nível mundial, contribuem numa determinada altura é designado por hashrate.
Uma hashrate alta significa mais poder fornecido e, por conseguinte, uma rede mais segura. Isto deve-se ao facto de quanto maior a hashrate, maior o custo para conseguir minar um bloco. Enquanto entidade maliciosa com a intenção de sabotar a rede, precisaria de conseguir mobilizar mais de 50% da hashrate durante um período de tempo prolongado. Com a hashrate atual, este é um empreendimento logístico que demoraria meses ou anos e custaria mais de 10 mil milhões de USD.
O hashing é basicamente tentar repetidamente adivinhar um enorme número aleatório. O mineiro que o adivinhar primeiro corretamente ganha a honra de acrescentar um bloco de transações e, ainda mais interessante, a recompensa do bloco – atualmente de 6,25 Bitcoin, ou a um preço atual de cerca de 300 000 $.
A emissão de Bitcoin não deve ser demasiado rápida (ou demasiado lenta), mas deve ocorrer em blocos de 10 minutos. Para mantê-la desta forma, a rede é recalibrada a cada duas semanas – a cada 2016 blocos, para ser preciso. Isto designa-se por ajuste de dificuldade. Dependendo do desenvolvimento da hashrate, é facilitado ou dificultado adivinhar o hash alvo. Isto mantém o tempo médio necessário para minar um bloco constante a longo prazo.
A Bitcoin e as outras criptomoedas dos primeiros anos baseavam-se todas neste princípio de hashpower ou, por outras palavras, prova de trabalho. Pode pensar: porquê dificultar tanto e ter mineiros a desperdiçarem toda essa energia? As origens da prova de trabalho ajudam a explicar isto. Nos anos 90, a prova de trabalho foi proposta como uma solução contra os ataques de negação de serviço e spam por e-mail. Se enviar um e-mail deixa de ser gratuito e passa a custar uma pequena quantia de tempo de processador e, por conseguinte, dinheiro, torna-se não rentável para os emissores de milhões de e-mails de spam darem continuidade às suas práticas. Resumindo, a prova de trabalho estimula o uso honesto de uma rede de comunicação, sem a necessidade de um árbitro.
Incidentalmente, a prova de trabalho nunca foi utilizada para as redes de e-mail. No caso do Gmail, a Google é a autoridade central que determina se o seu e-mail é, ou não, spam. A Bitcoin, explicitamente, não funciona dessa forma: esta é descentralizada. Não queremos que um banco central determine que transações são válidas e quais não o são. No entanto, para alcançar isto, os mineiros têm de fazer o hash como loucos!
A hashrate é uma medida de segurança da rede e a crença dos mineiros no desenvolvimento de preço saudável. É um dos indicadores mais importantes no painel da rede Bitcoin.
Quando o preço da Bitcoin é alto, os mineiros podem fazer bom dinheiro com as suas recompensas de bloco, mesmo após deduzirem os custos do seu equipamento e da conta de eletricidade. Um preço alto é um incentivo para mais mineiros se juntarem. Assim sendo, o preço da Bitcoin nunca fica desequilibrado durante muito tempo com os custos coletivos em que os mineiros incorrem. Não obstante, isto ainda pode acontecer temporariamente. Por exemplo, em maio de 2021, quando a China impôs uma proibição à mineração, os mineiros locais – nessa altura responsáveis por praticamente metade do total da hashrate mundial – fecharam a loja. A hashrate caiu de 170 exahash por segundo para menos de 90 exahash por segundo (exa é um 1 com dezoito zeros ou mil milhões de vezes mil milhões). Só foram necessários seis meses para a hashrate regressar sensivelmente ao seu nível anterior. Os Estados Unidos, em particular, deram as boas-vindas, de braços abertos, aos mineiros órfãos. A rede Bitcoin demonstrou aí, uma vez mais, a sua resiliência.
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