Erik Weijers, há um ano
A Bitcoin é dinheiro digital. No entanto, esta declaração é como dizer que a internet é uma espécie de biblioteca. Temos de começar por algum lado, mas há muito mais a dizer! Outra tentativa: a Bitcoin é dinheiro digital que não está sob o controlo de nenhum governo.
Ok, continuemos com outra peça do puzzle: pode enviar este dinheiro digital para todo o mundo, sem nenhum custo significativo e sem que alguém tenha de dar-lhe permissão primeiro. Não tem de esperar até depois do fim de semana; e não tem de entregar um passaporte ou um comprovativo de morada para juntar-se à rede. É verdadeiramente peer-to-peer.
Na ciência da computação, o “Problema dos Generais Bizantinos” existia desde 1982. Com o advento da Bitcoin, o problema foi resolvido. Porquê este nome? Imagine que, nos tempos idos, uma cidade tinha de ser sitiada. Os generais estão a uma grande distância uns dos outros, a aguardar pela ordem de ataque. Quando recebem uma notificação de um mensageiro com a palavra: ataque - como é que eles sabem que esta é uma mensagem genuína e não uma mensagem falsa do inimigo?
Traduzamos isto para o problema de uma rede de pagamento. Como é que alcançamos o acordo numa rede de pagamento descentralizada onde todos podem confiar uns nos outros? Esse foi o problema que Satoshi Nakamoto, o pseudónimo do criador da Bitcoin (e que muitos antes dele ou dela), queria resolver. Porque num sistema monetário em que há alguém a mandar há problemas com isso, como todos sabemos.
Que problemas? Bem, o dinheiro nas contas bancárias pode ser congelado. Além disso, um banco central pode imprimir dinheiro, fazendo com que as suas poupanças valham menos. A Bitcoin (BTC) previne ambas as coisas. Enquanto proprietário de Bitcoin, detém verdadeiramente o seu dinheiro. Ninguém consegue bloquear as suas transações, congelar o seu crédito ou emitir Bitcoin extra para eles próprios, provocando assim a inflação da oferta de dinheiro.
A blockchain é uma cadeia de “blocos” de novas transações. Um bloco de cerca de 2000 transações é adicionado a cada dez minutos. Dezenas de milhares de cópias do histórico dessa transação existem em todo o mundo. Cada designado nó verifica as transações candidatas e dá a sua aprovação num novo bloco de transação a cada dez minutos. Esta distribuição assegura que não há nenhum ponto central que um governo possa atacar. O mesmo se passa com os mineiros (veja abaixo).
A blockchain Bitcoin é, por conseguinte, um histórico de transações: uma base de dados online que é atualizada a cada dez minutos. Talvez possa pensar que, por si só, isto não é muito revolucionário. Aquilo que é engenhoso é a forma como a Bitcoin assegura que nenhuma transação pode ser alterada. Quanto mais profundo estiver “enterrado” um bloco de transação, mais improvável é a possibilidade de as transações ainda poderem ser modificadas.
Como é que isto funciona? Os blocos na blockchain estão ligados em conjunto com “hashes” - uma espécie de impressão digital. O hashing é o que os mineiros fazem e isto consome imensa energia: trata-se de resolver um quebra-cabeças criptográfico complicado. E como o hash de um bloco depende parcialmente dos dados da transação do bloco, não consegue manipular as transações de um bloco sem alterar o hash e sem desmembrar a cadeia.
Assim sendo, após uma determinada “profundidade” de blocos, é praticamente impossível alterar as transações: seria necessário demasiado poder de computação. Compare-o com construir uma arranha-céus. É-lhe impossível alterar as paredes do quarto andar caso a construção já tenha progredido até ao décimo andar. Este é o princípio da prova de trabalho: garante a imutabilidade do histórico de transação.
Hoje em dia, todos os tipos de entidades estão a comprar Bitcoin. Não só os indivíduos, mas também os negócios, instituições financeiras tradicionais e inclusive países. Todos lhe dão um motivo ligeiramente diferente para a escolha que fizeram. No entanto, as razões levam sempre àquilo que representa a invenção da Bitcoin na sua base. Nomeadamente, uma forma de armazenar e transacionar dinheiro sem uma autoridade central conseguir alterar ou manipular o seu valor.
Alguns exemplos:
Em todos os casos supracitados, o tema central é: independência. É uma forma de guardar o seu dinheiro sem riscos em contrapartida. Uma forma de conseguir manter alguns dos seus ativos e transações fora do sistema dominante e, por vezes, repressivo.
“Repressivo”: não será este termo demasiado pesado para as sociedades ocidentais? Nem por isso. A criação de dinheiro pelos bancos (centrais) provoca a desvalorização das nossas poupanças, também nos países ocidentais. Esta depreciação pode corresponder a dez ou vinte por cento, ou mais, por ano. Uma forma não solicitada de tributação do dinheiro que tanto nos custou a ganhar. Dado que a emissão de novas Bitcoins é fixa segundo o protocolo (nunca poderão existir mais do que 21 milhões), enquanto detentor de BTC, não tem de preocupar-se com isto.
Hoje em dia, há milhares de criptomoedas. Então, porque é que a Bitcoin é especial? Esta não pode ser copiada ou melhorada? A resposta resumida é: sim, a Bitcoin pode ser copiada e alterada. De facto, isto já foi feito muitas vezes. Afinal de contas, é um protocolo open source. Contudo, nenhum dos pretendentes ao trono chegou sequer perto de ganhar a mesma popularidade da original. No entanto, há outros projetos criptográficos que estão a tratar de outras coisas. Há “nichos” a emergir.
Porque é que a Bitcoin permanece tão popular quando comparada com as imitações? Compare-a à Wikipédia. Poderia copiar a Wikipédia e tentar fazer com que a minha respetiva versão desta enciclopédia fosse mais bem-sucedida. As probabilidades disso acontecer não são altas. Afinal de contas, já há uma Wikipédia. Porque é que todos os escritores e programadores - e todos os websites que têm links para esta - iriam subitamente começar a trabalhar para a minha Wikipédia?
Mas e então as melhorias? Nos primeiros anos das criptomoedas, foram lançadas várias moedas que eram uma cópia da Bitcoin com determinadas variáveis afinadas de forma diferente - por exemplo, o número de transações por bloco. Estas nunca conseguiram igualmente o sucesso da Bitcoin. Muitas das coisas que pretendiam alcançar - tais como um maior número de transações mais rápidas - podem ser desenvolvidas numa camada “sobre” a Bitcoin: a Lightning Network. O protocolo Bitcoin em si pode permanecer imutável.
Há, como é óbvio, coisas que a Bitcoin não consegue fazer. Este protocolo é bastante inflexível, “conservador”. É menos fácil de programar. A Ethereum é uma alternativa programável na qual estão a decorrer adaptações a um rápido ritmo. Mas isso não dá à Ethereum o nicho que a Bitcoin ocupou: dinheiro físico imutável.
Pode comprar Bitcoin numa bolsa ou numa corretora. Uma corretora é uma empresa altamente regulada que oferece o serviço de compra e venda de criptomoedas por dinheiro fiduciário (euros, dólares etc.). Habitualmente, uma corretora tem um excelente serviço de apoio ao cliente. As bolsas atuam como intermediárias entre compradores e vendedores. Estas oferecem pares de negociação (ex. BTC por ETH) e permitem que o mercado determine o preço. A LiteBit tem sido tradicionalmente uma corretora de criptomoedas e tem agora uma bolsa na fase beta.
Como funcionam as transações?
Outra opção é receber pagamentos em Bitcoin. Numa bolsa, recebe uma carteira (endereço) Bitcoin para a qual outra pessoa pode transferir Bitcoin. Ou pode comprar uma carteira física (uma espécie de pen USB) ou instalar uma carteira software (app). As outras pessoas também podem transferir BTC para esse endereço.
A realização de uma transação com Bitcoin não é muito diferente de uma transação bancária, pelo menos segundo a perspetiva do utilizador. Ao invés de um número de conta bancária, insere um número comprido, que é o endereço. Confirma a transação na sua carteira física ou - se o estiver a fazer numa bolsa - através de um código de verificação numa app Autenticadora ou no seu e-mail.
Quais são os benefícios da Bitcoin e de outras criptomoedas?
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